terça-feira, 8 de março de 2011

Uso da máscara na composição do figurino.

Aproveitando o carnaval fiz um apontamento sobre o uso da mácara na composição do elemento figurino.
Máscaras de Commedia dell’Arte, Itália Séc XVI.

Pois, a máscara permite ao ator esconder seu rosto, privando-o de um de seus principais meios de expressão. O ator com a máscara passa a fazer uso de outros recursos: os braços, as pernas, os movimentos de cabeça ou a movimentação do corpo inteiro no espetáculo. A máscara exclui a expressão do rosto, mas em compensação aumenta a responsabilidade de expressão do restante do corpo. Polariza a atenção visual do espectador, num processo em que busca se realizar basicamente através dos movimentos do corpo.
Em alguns momentos o ator passa a falar com o corpo, e a partir daí, se afirmam os estudos semióticos mencionados anteriormente de que a primeira impressão que temos das pessoas é essencial para nossa avaliação.
Máscara de comédia grega, Séc V a.C
Por outro lado, a máscara nega a função do ator como elemento intermediário entre a personagem e o espectador, na medida em que toma o lugar do rosto e passa a desempenhar, ela mesma, esta função. Desse modo, a máscara faz uma espécie de ponte de acesso à fábula, sem intermediações do ator, a não ser pelos seus movimentos corporais.
Esta conexão direta encurta, obviamente, a relação que há entre ficção e realidade onde a máscara, ao contrário da maquiagem que funciona como um filtro que recobre, disfarça e cria uma camada intermediária que afasta o ator de si mesmo, esconde e distancia o ator do público, por outro lado, ela aproxima o ator da personagem, atraindo o olhar do espectador e provocando inevitavelmente a sua capacidade de leitura e interpretação, através da expressão facial de quem ele está representando: o sincero, o traiçoeiro, o vingativo, o desconfiado, etc. “A máscara não é disfarce de um vazio existencial, mas uma tática de coexistir numa sociedade onde o primado é o da velocidade” (LYRA, 2002: 97).
Em várias culturas (hindu, mexicana, etc.) ela funciona como um objeto sagrado e, existe um respeito muito grande por parte dos atores. O que não acontece aqui no Brasil, muitos se recusa a usá-las por vaidade e por não querer esconder-se. Um bom exemplo do uso da máscara como complemento fundamental do figurino está no espetáculo “Fantasma da Ópera” [1], que em muitos momentos é identificado apenas pelo símbolo da máscara.



[1] O Fantasma da Ópera (Le Fantôme d l’ Opéra), 2006, Brasil. Direção: Harold Prince. Direção Geral: Arthur Masella. Produção: Mariana Suzá. Versão Brasileira: Cláudio Botelho. Iluminação: Aurolights. Figurino: Nena de Castro e Eliana Liu.  Teatro Abril. Edição IV. Com Saulo Vasconcelos (O Fantasma) e Sara Sarres (Christiane). 

Segundo Roberto Gill Camargo,

A máscara pode ser vista como um recurso teatral por excelência. Sua função representativa é explícita: está ali para representar um velho, um feiticeiro, um herói, um vilão ou qualquer outro ser não necessariamente humano. A representação, neste caso, não se dá por intermédio do rosto natural do ator, mas por um artefato confeccionado com materiais dos mais diversos tipos. A intenção não é demonstrar a personagem a partir da expressão dinâmica de seu rosto, mas sim através de uns traços fixos, característicos de expressão e suficiente para determinar a identidade, o caráter ou a posição social da personagem.[1]


[1] CAMARGO, op. cit.. p. 134.

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